“Os Prêmios da Academia” são o momento mais importante do cinema mundial. A cerimônia de premiação é realizada anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, fundada em 1927, sob o comando de Louis B. Mayer (Metro-Goldwyn-Mayer), a fim de organizar a relação entre os profissionais e as grandes produtoras, estimulando o desenvolvimento do setor.
A Academia nasceu com o objetivo da pesquisa e do desenvolvimento do cinema enquanto arte e ciência. Ainda que já houvesse um reconhecimento do mérito sobre as obras, não haviam premiações no início do século passado. Mayer então, teve a feliz ideia de criar uma premiação contemplando 5 especificidades profissionais: ator, diretor, produtor, técnico e roteirista.
O primeiro evento do Oscar foi realizado então, em 16 de maio de 1929, no Hollywood Roosevelt Hotel. A lista dos vencedores foi divulgada três meses antes. Os ingressos custavam US$ 5,00. Na plateia, haviam 270 pessoas. Douglas Fairbanks, um dos fundadores da AMPAS – Academy of Motion Picture Arts and Sciences, entregou os prêmios das 12 categorias em apenas 15 segundos.
A partir de então, a Cerimônia do Oscar se notabilizou como o ápice da indústria do entretenimento, pelo glamour das celebridades e a importância que as grandes produções passaram a ocupar no universo cultural. Prêmios como o Emmy ( TV ), Tony (teatro) e Grammy (música) também têm uma ampla visibilidade, mas nenhum deles têm a tradição e a complexidade do Oscar.
O Oscar só chegou à TV em 1953, apenas para Estados Unidos e Canadá. Em 1966, aconteceu a primeira exibição em cores e a partir de então o evento passou a ser exibido para outros países. Em 1970, Brasil e México foram os primeiros a transmitir a cerimônia ao vivo, via satélite. Atualmente, o evento atinge mais de 200 países com uma das maiores audiências da televisão mundial.
Segundo a Enciclopédia Novo Mundo, estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas assistam o Oscar ao vivo ou gravado a cada ano, equiparando-se em audiência e faturamento de mídia somente aos eventos da Copa da Fifa, os Jogos Olímpicos de Verão e o Super Bowl. O recorde de audiência nos Estados Unidos é de 1998, com 57,25 milhões de telespectadores.
Curiosidades da Indústria Cinematográfica
Em 1930, a premiação ganhou ares mais parecidos com os atuais. Os vencedores foram indicados previamente e a cerimônia foi transmitida ao vivo pelo rádio. Não houve nenhuma indicação, somente o anúncio dos vencedores em sete categorias. Pela primeira vez houve lobby. Mary Pickford, esposa de Fairbanks, organizou um jantar com os jurados da cerimônia.
Atualmente a divulgação dos filmes são feitas pelos próprios estúdios. Com o tempo também o número de categorias foi aumentando, a festa foi crescendo e chamando cada vez mais a atenção da indústria. Hoje em dia, existe um roteiro já pré-estabelecido com aparições de atores, apresentações multimídia em plataformas digitais, eventos e estratégias promocionais.
Como surgiu a estatueta?
Desde a primeira edição, o objeto mais icônico do Academy Awards é a estatueta. Chamada oficialmente de “Academy Award of Merit” ou Prêmio de Mérito da Academia, a peça foi criada pelo escultor George Stanley com base na silhueta do ator mexicano Emilio “El Indio” Fernández. Originalmente de bronze, já foi feita em gesso (Na 2ª Guerra Mundial), estanho e hoje é folheada a ouro.
Seu valor real é de U$ 500 dólares mas o prestígio de quem tem uma dessas na estante de casa é incalculável. O objeto é o corpo de um cavaleiro em Art Deco, com uma espada sobre um rolo de filme com cinco furos, cada um representando uma das cinco seções originaisda Academia. Desde 1929 a estatueta veio crescendo em tamanho e hoje pesa 3,856 kg e tem 35 cm de altura.
De onde veio o nome “Oscar”?
A origem do nome “Oscar” é controversa. Uma linha credita à atriz Bette Davis que lembrava do ex-marido Harmon Oscar Nelson. Outra fonte afirma que o nome veio de funcionários da Academia em favor do tio Oscar, de Margaret Herrick. Uma terceira via credita o batismo ao jornalista Sidney Skolsky numa coluna de 1934. O nome, transcendeu o prêmio e passou a denominar o evento como um todo.
Fatos históricos e inusitados
Pensando na história recente do Oscar é fácil lembrar de vários momentos inusitados do evento: a vitória emocionada de Viola Davis, em 2017; Jennifer Lawrence caindo na escada, em 2013; o discurso pró-equal pay de Patricia Arquette em 2015; a apresentação desastrosa de Anne Hathaway e James Franco, em 2011; o prêmio póstumo de Heath Ledger, em 2009, e outros momentos marcantes…
1940 – Hattie McDaniel é a primeira pessoa negra a vencer um Oscar
Hattie foi a primeira negra a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por: E O Vento Levou. Na ocasião, não pôde se sentar à mesa com o elenco pela segregação racial. Em seu discurso:“Espero que eu seja sempre um mérito para minha raça e para a indústria do cinema.“ Tempos depois, Sidney Poitier e Halle Berry fizeram história ao vencerem: Melhor Ator e Melhor Atriz, em 1964 e 2002.
1969 – O empate entre Barbra Streisand e Katherine Hepburn
O empate é muito raro na premiação da Academia. Em 90 anos foram apenas seis . O mais célebre é, sem dúvida, o compartilhado por Katharine Hepburn, em seu terceiro Oscar por: O Leão no Inverno, e Barbra Streisand, em sua primeira vitória, por Funny Girl. Ingrid Bergman, anunciou o prêmio de Melhor Atriz e Streisand o recebeu sozinha, já que Hepburn não compareceu à premiação, como de costume.
1972 – Charlie Chaplin recebe a ovação mais longa da história
O prêmio honorário à Charlie Chaplin emocionou pelo reconhecimento da obra de um ícone do pioneirismo do cinema. Foi um marco também pelo retorno do ator, diretor e compositor aos EUA, depois de 20 anos vivendo na Europa como um exilado político. Chaplin fez um discurso emocionado e curto, mas foi aplaudido em pé durante mais de 12 ininterruptos minutos.
1973 – Marlon Brando recusa o prêmio de Melhor Ator
Premiado por: O Poderoso Chefão, Brando não aceitou o prêmio, sendo um dos primeiros de Hollywood a usar o palco do Oscar, politicamente. Ele enviou a ativista Sacheen Littlefeather que fez um discurso em prol dos nativos americanos. A premiação seguiu como palanque para discursos engajados e/ou críticos à própria indústria, mas ninguém recusou o prêmio para levantar uma bandeira, além de Brando.
1994 – A performance intimista de Bruce Springsteen
Grandes números musicais são os que mais fazem barulho em premiações cheias de glamour como o Oscar, mas a performance de Springsteen marcou pela simplicidade e emotividade envolvida no tema. A faixa Philadelphia, uma elegia às vítimas da epidemia de HIV composta especialmente para o filme estrelado por Tom Hanks que levou o prêmio de Melhor Canção Original.
2010 – Kathryn Bigelow é a primeira mulher a vencer na categoria Melhor Direção
Com uma filmografia afiadíssima, Bigelow recebeu o prêmio de Melhor Direção por: Guerra ao Terror, desbancando Quentin Tarantino e James Cameron, seu ex-marido que concorria por Avatar. Apenas cinco mulheres foram indicadas ao Oscar de Melhor Direção na história; Kathryn foi a primeira a vencer e só foi igualada neste ano com a neozelandesa Jane Campion, de “Ataque de Cães”.
2017 – O envelope trocado na vitória de Moonlight – Sob a Luz do Luar
La La Land – Cantando Estações quase levou o prêmio de Melhor Filme em um dos momentos mais surpreendentes da história da cerimônia. Anunciado por Faye Dunaway e Warren Beatty, que tinham em mãos o envelope errado, o prêmio foi então revalidado ao verdadeiro vencedor: Moonlight – Sob a Luz do Luar, após o produtor de La La Land já ter feito o discurso de agradecimento.
2020 – O diretor e roteirista Bong Joon Ho – Parasita
O filme sul-coreano PARASITA foi o grande vencedor do Oscar 2020. A dramédia sobre diferença de classes recebeu quatro estatuetas e se tornou o primeiro filme não falado em inglês a vencer Melhor Filme. Além do prêmio principal, Joon Ho ganhou também: Roteiro original, Filme Estrangeiro e Diretor. No mesmo ano, levou a Palma de Ouro, em Cannes, e Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro.
OSCAR 2022
Entenda a confusão no Oscar 2022
A confusão aconteceu pouco antes do anúncio do vencedor na categoria de melhor documentário. Chris Rock fazia um monólogo, quando disse que aguardava Jada Smith numa continuação do filme G.I. Jane II. No filme original, a personagem de Demi Moore aparecia aparecia careca porque integrava o Exército. Na vida real entretanto, Jada Smith sofre de alopecia.
Num primeiro momento, Will Smith aparece sorrindo pelo comentário, assim como outros convidados, mas a câmera mostra que Jada ficou desconfortável com a brincadeira. Segundos depois, Will Smith sobe ao palco, se dirige à Chris Rock e lhe desfere uma bofetada. Em seguida, ele volta à sua poltrona e grita duas vezes: ”Tire o nome da minha esposa da p**** da sua boca”.
As principais redes de TV exibiram, ao vivo, a bofetada desferida por Will Smith contra Chris Rock. A maioria dos telespectadores não sabia se aquilo era uma encenação ou um desvio de conduta.
No intervalo, Will Smith ficou consternado e chorou. Denzel Washington puxou o amigo e disse: “Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar”.
Mas o grande vencedor do Oscar 2022 foi “CODA – No Ritmo do Coração”
No filme, Ruby (Emilia Jones), é uma garota que mora com seus pais numa cidade pesqueira dos EUA. Todas as manhãs, antes de ir à escola, ela embarca com o pai e o irmão para ajudá-los no ganha pão da família. Ruby é uma CODA, em inglês “children of dead adults” (filha de adultos surdos). O texto da roteirista, cineasta e diretora passeia entre o humor e o drama em momentos emocionantes.
O grande trunfo do longa, foi sem dúvida, seu elenco comprometido com o enredo. Troy Kotsur levou o Oscar de ator coadjuvante, Marlee Matlin ( única mulher surda até hoje a vencer o Oscar principal, em 1987) e Daniel Durant. No Ritmo do Coração é uma dramédia açucarada para assistir com o coração. Oscar 2022 – Melhor filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante.
A VIDA & A ARTE
O personagem Richard Willians, de “King Willians”, que deu o Oscar de melhor ator à Will Smith, foi retratado no filme como um pai presente e devoto com um cuidado excessivo no trato com a carreira das filhas. Na vida real, a primogênita Sabrina Willians abandonada aos 8 anos, descreve o pai como um “doador de esperma” com mais de 15 filhos espalhados pelos EUA.
No início de Parasita, a família de coreanos vivendo num porão sujo se parece com a realidade muitas famílias pobres do Brasil. Mas no desenrolar da trama, o se percebe é uma gangue de trambiqueiros inescrupulosos dispostos a tudo para se dar bem. Quantos de nós já nos deparamos na vida com “alpinistas sociais” como o patriarca Kim Ki-taek e sua prole?
Desde os anos 60, milhares de jovens tiveram o personagem Batman como modelo de super-herói. A magnitude envolta e o universo da Gothan City inspiraram gerações. De forma impressionante, o filme Coringa que retratou a história do maior vilão do Homem Morcego inverteu a narrativa de décadas, trazendo outra leitura com padrões de comportamento até então inaceitáveis.
O Oscar é um evento para rir, chorar, se emocionar e celebrar os grandes artistas e as grandes produções que tanto instigam o imaginário popular dos amantes da 7ª Arte. Não importa se você assiste a Warner ou a Netflix, se é fã do Batman ou do Coringa, se é um Parasita ou um Coda? O fato é que todo o mundo gosta de cinema. A vida imita a arte e a arte imita a vida. A escolha é sua.