COP26: todas as faces de Glasgow

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logo da COP26 com fundo azul e planeta terra em forma de arte abstrata

O início da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (de 31/10 até 12/11 de 2021), em Glasgow foi apelidado de “Grande Feira de Anúncios”. É um momento dramático da humanidade para se saber quem realmente está comprometido com o quê, quem vai cumprir as metas do Acordo de Paris e quem está blefando. O presidente da COP26, Alok Sharma, cobrou os países desenvolvidos sobre a entrega do financiamento público para que alcancemos a meta do aumento máximo de 1,5 ºC da temperatura da Terra em relação ao período pré-industrial até 2030. “O relógio está contra nós e todos terão que fazer esforços para reduzir a emissão de gases poluentes”.

Foi anunciada a criação da Aliança Financeira de Glasgow para Emissões Líquidas Zero, coalizão de 450 instituições financeiras que juntas respondem por US$ 120 trilhões. Japão, Austrália, Canadá, EUA, Suíça, Noruega e mais uma gama de “pop stars” prometeram dobrar o financiamento do Fundo de Adaptação.

Os governos de: Reino Unido, EUA, Alemanha, Noruega e Holanda, e as fundações Ford, Rainrest Trust, Bezos Earth Fund, Arcadia, Bloomberg Philantropies, Sobrato Philantropies e Wyss Foundation se comprometeram com um fundo de US$ 1,7 bilhão destinado aos PLICs (Povos Indígenas e Comunidades Locais) para proteger seus territórios.

 

Cobrança internacional

A estratégia de pressão sobre governos e grandes companhias já havia sido utilizada na COP21, em 2015. Ao invés dos líderes chegarem ao final do evento, as grandes atrações abrem o evento dando credibilidade e cobrando as organizações para os principais temas e objetivos da COP. Os corpos diplomáticos também pressionam governos e organizações.

O ex-presidente americano, Barack Obama, um dos signatários do Acordo de Paris, alertou: “Os governos não estão fazendo o suficiente para lidar com as mudanças climáticas necessárias”. Ele cobrou que países emergentes, como o Brasil, assumam seu papel de liderança que sempre desfrutaram. A questão central é que países emergentes não aceitam a redução das atividades industriais sem o compromisso dos países ricos financiarem o período de adaptação. Por sua vez, os países ricos condicionam o financiamento ao compromisso de redução do desmatamento e emissão de gases poluentes.

A delegação brasileira na COP26 teve a missão de resgatar a simpatia internacional. O Brasil aderiu à Declaração de Florestas e ao Compromisso Global Sobre o Metano. A indígena rondoniense Txai Suruí, discursou ao lado do premiê Boris Jonhson, em inglês, defendendo a inserção dos povos indígenas nos Acordos Ambientais.

Indígena Txai Suruí discursando na COP26Txai Suruí discursando na COP26

Expectativa quanto aos discursos

Apesar da quantidade de anúncios e as coalizões para financiar o período de adaptação, a situação continua alarmante, segundo a nova estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). De acordo com o documento Climate Action Tracker, há um vácuo entre as notícias e as ações efetivas.

Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma afirma que “Glasgow tem sido palco de grandes discursos”. Ela comemora os avanços como as mudanças nas contribuições para reduzir a quantidade de gases de efeito estufa (NDCs). Mas critica: “É como se fosse um elefante parindo um rato”, escreveu em sua página do Twitter.

Em relatório anual divulgado no mês passado, o Pnuma estima que mesmo com todos os compromissos firmados na COP26, a estimativa ainda não melhora para 2030. E há chances reais da temperatura chegar a 2,7 ºC. Anne Olhoff, a autora do relatório, disse que precisamos de “sete vezes mais ambição” para conseguir chegar na meta de 1,5 ºC.

Surpresas na COP26

O presidente da COP26, Alok Sharma, também admitiu: “Com base no que foi acordado há seis anos, os países reunidos em Glasgow devem impor regras de transparência, de controle mútuo de emissões, pactuar financiamentos de médio prazo e indenizado. Os relatórios mostram que houveram avanços, mas é claro que não foram suficientes”.

A grande surpresa da COP26 veio ao final: responsáveis por 40% da emissão de carbono na atmosfera, China e EUA anunciaram um surpreendente acordo de “fortalecimento das ações climáticas”. O chinês Xie Zhenhua afirmou que: “Ambas as partes reconhecem que há uma lacuna entre os esforços atuais e os objetivos do Acordo de Paris”.

Então, por sua vez, o americano John Kerry, o enviado especial americano, saudou “o roteiro que visa definir como limitar o Aquecimento Global e trabalhar juntos”. O acordo menciona uma significativa redução nas emissões de gás metano, sendo 80 vezes mais danoso que o CO2. Kerry e Zhenhua expressaram a esperança de estarem também impulsionando outros acordos em favor do clima.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou o acordo China x EUA, e conclamou as duas megapotências megapoluentes “para trabalharem juntas a fim de tomar medidas climáticas mais ambiciosas durante esta década”. No Twitter, ele publicou que “a crise climática requer colaboração e solidariedade internacional”.

Não sabemos o quão comprometidos, de fato, os grandes líderes mundiais estão ou estarão nos próximos cinco anos, mas uma coisa é certa: nunca o meio ambiente foi um tema tão presente nas nossas vidas. Nós continuamos esperando que as coisas mudem, que as pessoas mudem e que possamos, enfim, viver num planeta limpo e sustentável.

Líderes de Estado de pé durante a COP26

Porque 1,5 ºC é o número da sorte (ou não)

A temperatura média da Terra já aumentou 1,1 ºC em relação ao período pré-industrial, conforme relatório de agosto do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Pelo Acordo de Paris, os países se comprometeram com aumento máximo de 1,5% até 2030.

Para cumprir o Acordo, são necessários cortes drásticos nas emissões de dióxido de carbono CO2, o principal vilão do efeito estufa. Segundo Michael Oppenheimer, especialista em mudança climática da Universidade de Princeton, nos EUA, “há muita diferença entre 1,5 ºC e 2 ºC”.

Assim, o cientista alerta que: “Se ultrapassarmos 1,5 ºC, os eventos climáticos passarão a ocorrer de forma não-linear”. Ciclones, inundações e calor extremo incorrerão em catástrofes de forma aleatória. “Acima de 2 ºC, a Grande Barreira de Coral, na Austrália, praticamente desaparece”, conclui.

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