Quem acompanha o mercado, mesmo de longe, certamente já foi impactado por alguém que mencionou Bitcoin, Criptomoedas ou Moedas Digitais. Essa nova modalidade de transações financeiras ganharam força nos anos 2000 com o surgimento do Bitcoin, ainda que com muita desconfiança dos mercados. Todo mundo queria saber como, onde e como sacar, transferir ou investir nessa nova modalidade de ativo financeiro.
A história do Bitcoin (BTC) é repleta de mistérios. Foi a primeira criptomoeda do mundo, lançada em 2008, mas que até hoje ninguém sabe ao certo a verdadeira identidade de seu criador. Quatorze anos depois, o Bitcoin continua sendo a referência do mercado, ainda que hoje haja outras tantas opções de criptomoedas referendadas pelo mercado.
Bitcoin é o nome de batismo de uma forma de dinheiro eletrônico peer-to-peer(ponto a ponto) que pode ser transferido sem o intermédio de uma instituições financeira. Na prática, dois indivíduos podem enviar BTC, um ou para o outro, sem precisar de um banco ou organização financeira para fazer uma transação, nem de um órgão regulador e tampouco de um governo.
As operações são confirmadas na Blockchain (banco de dados que registra as negociações). A tecnologia do Blockchain nasceu junto com o Bitcoin e os seus próprios participantes são os auditores da rede. Como não há uma terceira parte envolvida, enviar Bitcoin de um país para outro, é mais barato e rápido do que transferir moedas fiduciárias.
O BTC é digital, descentralizado e não é controlado por governos, empresas, pessoas ou entidades governamentais. Portanto, nenhuma Casa da Moeda precisa imprimi-lo em nenhum Banco Central, que teria o poder de controlar ou interferir no seu valor. Sua flutuação depende única e esclusivamente da lei mais antiga do mercado: “a oferta e a procura”.
O Bitcoin, a primeira criptomoeda do mundo
O criador do Bitcoin, autodenominado Satoshi Nakamoto, em 2008 enviou um e-mail para uma lista de pessoas interessadas em criptografia. No corpo da mensagem relatou que: “vinha trabalhando em um novo sistema de dinheiro eletrônico totalmente peer-to-peer, sem terceiros confiáveis”. Ele inseriu um link com o white paper (manual) da criptomoeda, em inglês. No documento de nove páginas, descreve os fundamentos do Bitcoin, baseados em quatro pontos principais:
É uma rede peer-to-peer para evitar o gasto duplo (possibilidade de enviar as mesmas moedas mais de uma vez); sem intermediários como bancos; permite o anonimato dos participantes; e usa Prova de Trabalho (um tipo de algoritmo) para gerar Bitcoin (processo que ganhou o nome de mineração) e prevenir o tal gasto duplo.
No manual, ele também estipula que o BTC teria oferta finita. No total, apenas 21 milhões de unidades poderiam ser mineradas (criadas) até o ano de 2140. Até o final de outubro de 2021, segundo o agregador Coingecko, 18,8 milhões de Bitcoin já haviam sido emitidos o que, desde já, torna a moeda escassa.
Apesar do Bitcoin ter sido lançado no final de 2008, o primeiro bloco (nome do arquivo com informações sobre transações) da blockchain da criptomoeda, só foi minerado em 3 de janeiro de 2009. No bloco chamado de Gênese, Nakamoto escreveu a mensagem criptografada “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks”.
O texto, que em português significa “Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos”, é uma alusão à manchete do jornal britânico The Times daquele dia. As palavras também foram interpretadas como um indicativo das motivações que teriam levado Nakamoto a criar o Bitcoin.
O white paper do Bitcoin foi lançado pouco mais de um mês após o anúncio da falência do Lehman Brothers, que chegou a ser o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos. A quebra do conglomerado financeiro foi o episódio mais emblemático da crise financeira nos EUA, que se espalhou pelo mundo em uma das piores recessões econômicas da história.
A quase simultaneidade desses dois fatos, fez alguns economistas e entusiastas do mercado de criptomoedas se questionarem se o Bitcoin teria surgido como uma resposta à instabilidade financeira daquela época. Fernando Ulrich, mestre em economia e especialista em criptomoedas, fala sobre os dois eventos em seu livro “Bitcoin – A Moeda na Era digital”.
“Ainda que possa ser considerada mera coincidência, o fato da moeda ter surgido em meio à maior crise financeira desde a Grande Depressão, não podemos deixar de notar os Estados intervindo com medidas sem precedentes e arbitrárias das autoridades monetárias, além da perda de privacidade que cidadãos enfrentaram em países emergentes e desenvolvidos”.
A crise financeira nos EUA foi gerada, em boa parte, por uma desenfreada liberação de crédito fácil e especulação no mercado imobiliário. O economista Fernando Antônio de Barros Jr, professor/doutor da FEA-RP/ USP, acredita que o “timing” entre os dois eventos foi uma grande coincidência. “Eu acho que há pouca probabilidade de que o Bitcoin tenha sido lançado por causa da crise de 2008”.
No white paper, é possível perceber que Nakamoto não estava tentando criar um ativo financeiro, mas um meio de pagamento seguro e fora do controle de qualquer governo. Mas as discussões sobre a criação de uma moeda como o Bitcoin começaram bem antes de 2008. De acordo com o Bitcoin.org, o conceito foi descrito pela primeira vez em 1998, num artigo do engenheiro chinês, Wei Dai, que está citado no white paper.
A crise de 2008 começou nos EUA e se espalhou pelo mundo
Satoshi Nakamoto continua até hoje sendo um mistério. Algumas pessoas vieram a público afirmar que ele é um personagem, mas até agora ninguém conseguiu provar nada. O que se sabe, vem de vestígios da sua vida online. Em 2009, ele lançou o BitcoinTalk, um fórum de discussões sobre criptomoedas.
Nakamoto foi bem ativo ao longo de quase um ano, postando cerca de 600 mensagens. Mas nenhuma delas deu pistas concretas da sua verdadeira identidade. Sua última movimentação no fórum ocorreu em 12 de dezembro de 2010. No post ele deu dicas sobre a segurança da rede. Depois disso, não publicou mais nada no BitcoinTalk.
No mesmo ano, ele passou o repositório com o código do Bitcoin para Gavin Andresen, um desenvolvedor envolvido no projeto. Em 2011, em sua última aparição online, ele enviou um e-mail de despedida e literalmente passando a bola para outros desenvolvedores próximos e finalizou: “Eu mudei para outras coisas. Isso está em boas mãos com Gavin e todos”.
Ninguém sabe quem criou o Bitcoin mas há alguns suspeitos e muita especulação. Na lista figuram pessoas que colaboraram com o projeto ou eram próximas do suposto criador do BTC e outras figuras do universo digital ou que foram citadas por Satoshi. Também se especula que o projeto do Bitcoin poderia ter por trás, um bilionário capaz de influenciar o mercado com apenas um tweet:
Gavin Andresen, por ter ficado com o controle do código da criptomoeda e ter trocado mensagens com Nakamoto.
Hal Finney, a primeira pessoa a receber uma transferência de Bitcoin de Nakamoto, em 2009. Finney morreu em 2014, aos 58 anos, vítima de doença degenerativa. A seu pedido, seu corpo foi congelado para ser revivido no futuro, caso haja alguma tecnologia capaz de vencer a morte.
Os cientistas da computação Nick Szabo e Adam Back, ambos citados no white paper do Bitcoin.
Craig Steven Wright, cientista da computação e empresário que, em 2016, disse aos jornalistas que ele era o verdadeiro Nakamoto, mas sem apresentar provas convincentes.
Por fim, o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, também está no páreo. A teoria a respeito de Musk surgiu depois que um funcionário seu, conhecido por influenciar o mercado de criptomoedas com tweets, disse que ele poderia ter criado o BTC. Mas o empresário nega.
A diferença entre Bitcoin, Altcoin e Moeda Digital
A principal diferença entre Bitcoin, criptomoeda e moedas digital de bancos centrais (CBDC, em inglês) é a forma de emissão e distribuição. O BTC e as Altcoins (qualquer criptomoeda diferente do Bitcoin) são descentralizadas. Ou seja, não há governo ou país no controle. As regras, portanto, são ditadas pelos envolvidos nos projetos e usuários.
As moedas digitais de bancos centrais, por outro lado, são emitidas e distribuídas por órgãos governamentais. “As CBDC são representações digitais das moedas fiduciárias dos países, sendo controladas pelos bancos centrais”, explica Ricardo Dantas, CO-CEO da corretora de criptomoedas Foxbit.
Na prática, uma moeda digital emitida por um Banco Central é uma cópia virtual do dinheiro corrente do país. Seu valor, portanto é determinado por uma autoridade monetária. É diferente das criptomoedas descentralizadas, cujos preços variam conforme a lei da oferta e procura.
Há diversas formas de se comprar bitcoins e altcoins. Exchanges, ETFs de criptomoedas e fundos de investimentos do setor são algumas das opções. No caso da exchange, o usuário precisa escolher alguma opção e abrir uma conta. Em geral, elas pedem data de nascimento, RG, CPF, CNPJ (para empresas) e endereço no cadastro feito online.
Algumas também solicitam foto(selfie) para confirmar sua identidade. Há taxas de saques e transferências. O investimento mínimo de compra de Bitcoin depende de cada corretora. Para algumas delas, o valor mínimo começa em R$ 25,00; outras partem de R$ 50,00. Os ETFs de criptomoedas também podem ser negociados direto na Bolsa de Valores.
Mas para isso, é preciso abrir uma conta em alguma das 100 corretoras de valores existentes no Brasil. O cadastro também envolve o envio de documentos pessoais. É importante lembrar que o investidor na hora da compra, precisa pagar taxas de corretagem e de custódia para as corretoras, além dos encargos da B3.
Também há uma taxa de administração. As cotas iniciais dos fundos de índice (outro nome para ETF) variavam de R$ 14,00 até R$ 72,00 no começo de outubro p.p.. Por fim, é possível comprar bitcoins por meio de fundos de investimentos que alocam recursos na criptomoeda. Até o início deste mês, haviam 21 opções regulamentadas no Brasil.
Esses produtos podem ser comprados em corretoras ou diretamente nas gestoras. Há fundos para investidores de varejo, profissionais e qualificados. O cadastro depende da opção e do enquadramento. As cotas mínimas variam conforme o fundo e o público-alvo. É possível investir a partir de R$ 500,00 . Também existe taxa de administração.
O Bitcoin atingiu sua máxima histórica em 20 de outubro de 2021, superando pela primeira vez os US$ 65 mil. No Brasil, chegou a valer R$ 370.000,00 mil em algumas corretoras.
Ao longo de seu breve histórico no entanto, as criptomoedas se portaram como uma montanha-russa, registrando períodos de alta valorização (bull market) e de quedas drásticas (bear market). Confira o histórico das maiores altas e baixas anuais do Bitcoin.
Blockchain, a tecnologia que tornou as criptos possíveis
A Blockchain é um grande banco de dados compartilhado que registra as transações dos usuários.
A rede do Bitcoin, a primeira do mercado, guarda informações como quantidade de criptomoedas transferidas entre os usuários; identificação (endereço digital) de quem enviou e quem recebeu os valores; e data e hora das transações. A diferença entre uma blockchain como a do BTC e os bancos de dados “tradicionais” é que ela não é controlada por autoridades, como bancos, governos, empresas ou grupos.
O sistema foi construído de tal maneira que os participantes chamados de “nós”, são os controladores e auditores de tudo que tomam as decisões sobre a rede. Há uma cópia da blockchain nos computadores de todos os envolvidos, espalhados por todo o mundo. Cada membro, não importa aonde esteja, vê a mesma informação quando acessa o sistema. Nenhuma alteração pode ser feita sem a aprovação da coletividade.
Os dados também são imutáveis, ou seja, se as transferências foram validadas e registradas, são eternas e não podem ser alteradas. Esse funcionamento, segundo Rafael Nasser, doutor em Informática da PUC-Rio, é viável por causa de mecanismos de consenso que, na prática, são algoritmos que estabelecem algumas regras. O algoritmo mais tradicional é o Proof of Work (Prova de Trabalho, em português) usado no Bitcoin.
O protocolo estabelece como e o que fazer quando se recebe uma informação, como estruturá-la em determinado formato e como deve ser validada. Tudo isso passa pelo sistema. “Eu diria que a blockchain é uma engrenagem que estabelece relações de confiança no ambiente online. Por ser descentralizada, viabiliza relações com qualquer pessoa, pois confio na tecnologia e na rede que sustentam essa distribuição”, disse Rafael Nasser, doutor em informática pela PUC-RJ.
Blockchain, em tradução livre, significa “corrente de blocos”. Hoje, há diversos modelos no mercado, mas a primeira foi proposta junto com o Bitcoin, em 2008. Para imaginar como a rede descentralizada do BTC funciona, pense nela como um livro-razão virtual (ficha onde são registradas transferências) rodando em diversos computadores espalhados pelo mundo, todos trabalhando ao mesmo tempo.
Quando o usuário A envia um Bitcoin para o B, essa transferência fica registrada na blockchain dentro de um bloco de informação. Esse bloco, assim que fica cheio de transações, é “selado”, ganha uma espécie de carimbo com data e hora, chamado de timestamp, e é “empacotado” com um identificador, chamado de hash. Para visualizar essa estrutura, imagine um quadrado cheio de números e letras aleatórias.
O usuário B, assim que recebeu o Bitcoin, passou metade do valor da criptomoeda para C, e essa transferência foi colocada em um novo bloco criado na sequência do anterior. Esse bloco também vai receber um identificador próprio, mas com um detalhe: ele tem um “pedaço” daquele que foi gerado anteriormente na transação entre A e B.
A blockchain surgiu junto com o Bitcoin em 31 de outubro de 2008, quando Nakamoto publicou o white paper (guia) do BTC, intitulado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” (Bitcoin: Um Sistema de Dinheiro Eletrônico Peer-to-Peer). Vale ressaltar que Nakamoto não usou a palavra “blockchain” no documento. Ao longo das nove páginas do material, ele cita apenas os termos “block” e “chain” separados.
Outro adendo é que discussões sobre tecnologias de registro distribuído (DLT, na sigla em inglês), categoria na qual a blockchain se enquadra, ocorrem desde 1991. Naquele ano, o matemático Stuart Haber e o físico W. Scott Stornetta publicaram um artigo sobre o assunto. O trabalho dos dois pesquisadores também estão citados no white paper.
Antes do Bitcoin, não há registros do uso da tecnologia. O BTC foi a primeira grande aplicação da blockchain. O primeiro bloco foi minerado em janeiro de 2009. Chamado de Gênese, ele contém ainda a mensagem criptografada deixada por Nakamoto, que fazia alusão à manchete do jornal britânico, The Times de 03/01/2009: “Chancellor on brink of second bailout for banks” (Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos).
Apesar de existirem centenas de modelos de blockchain, existem dois grandes grupos básicos da tecnologia: os públicas e os privados. Nas blockchains públicas, qualquer um pode entrar, ver as movimentações e não há uma entidade central, como empresa, banco ou governo controlando as informações e ditando as regras. As redes do Bitcoin e do Ethereum se enquadram nessa categoria.
Com o boom das criptomoedas, empresas e governos se interessaram pela tecnologia e foram criadas as blockchains privadas, que têm uma entidade central que controla quem pode participar, informações e regras. Esse modelo faz sentido para quem quer utilizar parte dos benefícios da tecnologia com privacidade. Empresas como IBM e JBS, Receita Federal do Brasil e os governos do Ceará e do Paraná, utilizam este sistema.
Segurança
Mayra Siqueira, gerente geral da Binance no Brasil, afirma que o Bitcoin é seguro. Prova disso é que a blockchain, tecnologia por trás da criptomoeda, nunca foi hackeada ao longo desses 13 anos de história. E isso se deve, principalmente, ao mecanismo criado por Nakamoto, em especial pelos dois recursos: Consenso e Imutabilidade.
“O consenso refere-se à capacidade dos “nós” (dispositivos conectados à interface do Bitcoin), dentro de uma rede blockchain distribuída, de concordar com o estado verdadeiro da rede e com a validade das transações. Já a imutabilidade, refere-se à capacidade da blockchain impedir a alteração de transações já confirmadas”, disse Mayra.
Esses dois recursos permitem que transações entre pessoas sejam realizadas sem a necessidade de um terceiro como banco ou empresa de investimento. Mayra garante que, além de ter tecnologia confiável, o Bitcoin é um investimento seguro, mas o investidor precisa fazer o dever de casa com cuidado, pois BTC é “considerado um investimento de risco”.
Já o economista Fernando Antônio de Barros Júnior, professor doutor da USP, afirma que o BTC é um investimento seguro. Entretanto, é um ativo de alto risco. “Por isso que o investidor deve fazer o que é recomendado por qualquer curso de educação financeira: ponderar a questão do risco e do retorno e nunca colocar todos os ovos na mesma cesta”.
As criptomoedas são ativos recentes e com uma lógica bastante sofisticada de funcionamento. Por isso, ainda há muita gente procurando entender melhor como operar. As moedas digitais têm algumas vantagens sobre moedas as físicas e outros meios de pagamentos. O site Bitcoin.org lista as seguintes para os bitcoins:
Liberdade de pagamento: Com um bitcoin, é possível enviar ou receber qualquer valor instantaneamente em qualquer lugar.
Taxas baixas: Atualmente, pagamentos realizados com moedas digitais são processados com taxas baixas ou até isentas. Há cobranças caso os usuários desejem ter uma confirmação mais rápida das operações pelo sistema. Para o comércio em geral, existem serviços baseados em bitcoins, em que o processamento das vendas e a transferência dos valores são realizados diariamente e com custos menores do que dos métodos tradicionais como PayPal ou redes de cartão de crédito.
Segurança: Segundo o site Bitcoin.org, os pagamentos com Bitcoin podem ser realizados, sem vincular informações pessoais do usuário à transação. “Isto oferece forte proteção contra furto de identidade”, informa. Outra vantagem é que o usuário pode proteger o dinheiro com cópias de segurança e criptografia.
Transparente: Todas as informações sobre a oferta de unidades de Bitcoin ficam disponíveis na blockchain para qualquer pessoa. Ninguém, nem nenhuma organização pode controlar ou manipular o protocolo da moeda digital porque ele é criptografado. O núcleo do Bitcoin é reconhecido como confiável por ser neutro, transparente e previsível. Quem aposta no mercado de moedas digitais, por outro lado, precisa estar atento para uma série de detalhes específicos do segmento.
Grau de aceitação: Como uma quantidade relativamente pequena de pessoas conhece, e outra menor usa, as moedas digitais ainda são pouco conhecidas dos estabelecimentos que aceitam essa forma de pagamento, como informa o site Bitcoin.org.
Volatilidade: Ajustes de preços são comuns em moedas digitais. Isso acontece porque as criptomoedas estão ganhando visibilidade e atraem novos usuários que acabam sobrevalorizando o ativo. “Esses ajustes são bolhas especulativas tradicionais como, coberturas de imprensa otimistas demais e provocam ondas de investidores novatos que pressionam o valor para cima. Depois a especulação atinge um ponto de inflexão e o preço despenca”, explica Fernando Ulrich, autor do livro “Bitcoin: A moeda na era digital”.
Segurança: Embora o Bitcoin.org reforce a segurança como um aspecto positivo da moeda digital, Ulrich ressalta que se os usuários não forem cuidadosos, correm o risco de “apagar” ou perder seus Bitcoins. “Uma vez que o arquivo digital esteja perdido, o dinheiro está perdido, da mesma forma com dinheiro vivo em papel”, afirma Ulrich.
Ulrich explica ainda que as as carteiras de moedas digitais podem ser protegidas por criptografia, mas que cabe ao usuário ativá-las. “Se um usuário não cifra a sua carteira, os Bitcoins podem ser roubados por malware”, diz. Da mesma forma, as casas de câmbio de moedas digitais precisam se proteger da ação de hackers. Notícias sobre roubos e incidentes acontecem eventualmente.
Conheça os tipos de tokens:
Payment tokens (tokens de pagamento): são utilizados para transferência de capital, funcionando como dinheiro eletrônico. O Bitcoin, o Ethereum e boa parte das mais de 10 mil criptomoedas existentes no mercado se enquadram nessa categoria.
Security tokens (tokens mobiliários): representam algum ativo imobiliário, como uma ação negociada na Bolsa de Valores. Como estão “ligados” a algo regulamentado, eles precisam atender às regras de supervisores do mercado de capitais.
Utility tokens (tokens utilitários): oferecem alguma utilidade, como desconto em um produto específico ou acesso a um serviço exclusivo. Os fan tokens, ativos digitais de clubes de futebol, são exemplos. Alguns times dão aos detentores o direito de votar em enquetes, escolher a frase escrita em uma dependência do estádio, participar de promoções ou ter acessos exclusivos.
Non-fungible tokens (tokens não-fungíveis), ou NFTs: são tokens que representam algo único. Eles podem “espelhar” obras de arte, músicas, capas históricas de revistas e até tweets. Ao adquirir um NFT, a pessoa basicamente compra um código de computador que contém o registro do objeto.
The Smart Contracts
Cinco anos após o lançamento do BTC, o mercado percebeu que uma blockchain poderia ser usada em outras frentes, não apenas na criação de moedas digitais. “As pessoas começaram a entender o seguinte: caramba, olha quanto dinheiro está sendo resguardado por uma tecnologia, e não tem um banco nem ninguém controlando, e é totalmente descentralizada. Então a tecnologia evoluiu, e surgiram novos projetos”, disse Nasser.
O primeiro grande projeto depois do Bitcoin foi o Ethereum, lançado pelo programador russo-canadense Vitalik Buterin, em 2015. Essa nova blockchain, apesar de seguir parte dos princípios da rede do BTC, oferecia um diferencial: a possibilidade de criar “contratos inteligentes”. Esses contratos são programas guardados na blockchain que se executam conforme regras pré-estabelecidas, sem intermediários para controlar.
Exemplo: quando você quer alugar uma casa, há uma série de etapas que precisam ser cumpridas, como envio de documentação para a imobiliária, análise dessa documentação, pagamento da caução (ou indicação do fiador), depósito do primeiro aluguel e assinatura do contrato. Em um smart contract, todos esses procedimentos estariam programados, e não seria preciso uma imobiliária para intermediar o negócio.
Assim que você incluir os documentos no smart contract, tudo de acordo com o que foi tratado e fizer o primeiro pagamento, o contrato de locação é enviado para assinatura e é só buscar as chaves. Segundo Nasser, há 100 plataformas que implementam os conceitos da blockchain de maneiras distintas. As principais diferenças estão no algoritmo de consenso usado, na estrutura de dados e no modelo de sustentação econômica.
A economia do Bitcoin, por exemplo, é baseada em parte na escassez da criptomoeda. Já a lógica por traz da economia do Ethereum é o valor da plataforma, que permite a criação dos contratos inteligentes.
Mineração
Para entender o que é mineração, é preciso saber que as moedas digitais representam um código complexo que não pode ser alterado. As transações realizadas com elas são protegidas por criptografia. Como não há uma autoridade central que acompanhe essas transações, elas precisam ser registradas e validadas, uma a uma, por um grupo de pessoas que usam seus computadores para gravá-las no Blockchain.
O Blockchain é um enorme registro de transações. Segundo Ulrich, trata-se de um banco de dados público onde consta o histórico de todas as operações realizadas com cada unidade de criptomoeda. Cada nova transação e como uma transferência entre duas pessoas, verificada contra o blockchain para assegurar que os mesmos ativos, não tenham sido previamente usados por outra pessoa.
Quem registra as transações no blockchain são os mineradores. Eles oferecem capacidade de processamento dos seus computadores para registrar e conferir as operações feitas com as criptos. Em troca, são remunerados com novas unidades delas. As moedas são criadas conforme milhares de computadores que formam essa rede conseguem resolver problemas matemáticos complexos que validam transações na blockchain.
A mineração valida a criação de novas unidades de moeda digital. Se mais computadores forem utilizados, aumenta a capacidade de processamento voltada à mineração e os problemas matemáticos se tornam mais difíceis. “O Bitcoin foi projetado de modo a reproduzir a extração de ouro ou outro metal precioso da Terra: somente um número limitado e previamente conhecido de bitcoins poderá ser minerado”, explica Ulrich.
Se Maria, que mora no Brasil, transferir R$ 5 mil para a conta de João, que vive na Inglaterra, esse dinheiro precisa passar por um terceiro, como um banco que atua como garantidor da transação e cobra uma taxa pelo serviço. No caso do Bitcoin, parte deste papel é função dos mineradores. Se Maria, em vez de enviar moeda fiduciária, enviar 1 BTC para o João, algum minerador deverá registrar essa transação na blockchain.
Uma transação finalizada, vale 6,25 Bitcoin. Em 22 de outubro de 2021, o BTC era negociado a R$ 343 mil. Quem validou uma transação nessa época, levou R$ 2,1 milhões em BTC. Parece fácil minerar Bitcoin, só que não. Para conseguir o registro, há uma Prova de Trabalho (algoritmo) que, na prática, é um complexo problema matemático que deve ser resolvido em 10 minutos, o tempo que uma transação é confirmada na rede do BTC.
Mas o detalhe que deixa a tarefa extremamente mais difícil, é que há milhares de mineradores tentando resolver a equação ao mesmo tempo. E como há muitos competidores, mais árduo fica encontrar a solução e mais poder computacional é necessário.
As Criptomoedas mais conhecidas
Ethereum
Existem semelhanças e diferenças entre o Bitcoin e o Ethereum (ETH). A moeda digital original, na verdade, se chamava Ether. Em 2016, um hacker encontrou uma falha no sistema e conseguiu roubar o equivalente a US$ 50 milhões em Ether. Diante das dúvidas sobre o futuro da moeda, a comunidade optou por criar uma nova rede.
O Ether original, alvo do roubo, passou a ser chamado de Ethereum Classic e a moeda que começou a circular na nova rede, ganhou o nome de Ethereum. Com o apoio da comunidade, ela hoje vale mais que a sua primeira versão. Originalmente, o Ether não foi criado para ser uma moeda digital como o Bitcoin.
A ideia era que se tornasse um ativo para recompensar os desenvolvedores pelo uso da plataforma Ethereum em seus projetos. Trata-se de uma plataforma descentralizada, utilizada para executar “contratos inteligentes” para operações realizadas automaticamente quando certas condições entre as partes são cumpridas.
O blockchain também é a base para a validação das transações com Ethereum, para garantir a segurança e ainda evitar fraudes. Assim como no caso do Bitcoin, a criação de novas moedas também se baseia no processo de mineração. Hoje, o Ethereum está entre as criptomoedas mais negociadas do mundo.
Tether
Ao contrário do Bitcoin e outras moedas digitais, o Tether (USDT), lançado em 2014 por uma empresa de mesmo nome, é um stablecoin ( lastreado em uma moeda física). A proposta da criptomoeda é manter uma paridade com o dólar americano. Ou seja, para cada Tether emitido, é preciso haver um dólar equivalente em caixa.
Desde que a criptomoeda foi criada entretanto, especialistas questionam a paridade, já que a empresa não oferecia transparência sobre como fazia para segui-la. Em 2019, foi anunciado que nem todo Tether está realmente lastreado em um dólar.
Segundo a empresa, 100% deles são garantidos, mas não apenas por moeda tradicional, como também por equivalentes de caixa e outros ativos ou recebíveis de empréstimos feitos pelo Tether à terceiros. A característica do Tether é ser uma moeda estável que representa moedas físicas no mundo digital.
Devido à menor volatilidade, ele se tornou uma boa opção para realizar transferências entre sistemas e com diferentes criptomoedas. Assim, investidores se protegem das variações de preço de outros ativos e evitam o risco de ter perdas significativas durante essas operações.
O Tether é predominantemente negociado na Bitfinex, uma grande bolsa de criptomoedas, que tem acionistas e executivos em comum com a Tether (empresa controladora da moeda). Embora possua algumas vantagens em relação a outros ativos digitais, a empresa já esteve envolvida em grandes polêmicas.
Houve, por exemplo, uma acusação da Procuradoria Geral de Nova York de que a Bitfinex teria usado reservas do Tether para cobrir um rombo de US$ 850 milhões nas suas contas, a partir de 2018. Outra suspeita é que a moeda tenha sido utilizada por um especulador em operações para manipular o preço do Bitcoin no mercado, com conhecimento e/ou até envolvimento da Bitfinex. São fatos ainda por esclarecer…
Ripple
O Ripple (XRP) é um protocolo de pagamento distribuído criado em 2011. Uma característica do Ripple é suportar em sua rede outros tokens representando moedas tradicionais e até outros bens. A ideia é que o sistema permita realizar pagamentos seguros e instantâneos. Idealizado por Ryan Fugger, Chris Larsen e Jed McCaleb, o Ripple foi criado em 2012.
Não se trata apenas de uma moeda, mas de um sistema em que qualquer moeda, incluindo o Bitcoin, possa ser negociada. Em certa medida, o funcionamento do Ripple se assemelha em algum grau ao dos bancos, por aceitar vários ativos e facilitar a realização das transações.
Justamente por isso, o Ripple vai na contramão do discurso sobre as moedas digitais em geral, que têm como ideal a não dependência do sistema financeiro tradicional para realizar operações. Outra característica é que não há um processo de mineração, como no caso o Bitcoin e o Ethereum.
Litecoin
O Litecoin (LTC) foi criado em 2011 pelo ex-funcionário do Google, Charlie Lee e tem características semelhantes ao Bitcoin. A principal diferença está no processo de mineração, que busca reduzir o tempo necessário para confirmar transações feitas com a moeda. A intenção é que ele seja mais fácil para a pessoa participar do processo de criação de novos Litecoins.
Por conta do processamento mais rápido de transações, o Litecoin é considerado uma alternativa melhor para a realização de operações no dia a dia. O Litecoin foi projetado para produzir mais unidades, com um limite de 84 milhões de moedas, contra 21 milhões do Bitcoin.
Bitcoin
O Bitcoin (BTC) é a mais conhecida das criptomoedas. É o primeiro sistema de pagamentos global totalmente descentralizado. Foi desenhado com o objetivo claro, de substituir o dinheiro de papel e eliminar a necessidade da presença de bancos para intermediar operações financeiras.
O site Bitcoin.org, especifica o Bitcoin e a prova de conceito, publicados no famoso white papper de Nakamoto, constituiu a lógica de funcionamento do blockchain, o sistema que possibilitou e viabilizou a existência do Bitcoin.
Bitcoin Cash
O Bitcoin Cash (BCH) é uma nova versão do Bitcoin original criada em 2017. Ela foi desenvolvida numa tentativa de aperfeiçoar a primeira moeda, que conta com taxas elevadas e demanda um grande tempo de processamento pra cada operação. A principal diferença é que o Bitcoin Cash possui limite de tamanho de bloco de 8 MB, bem maior que 1 MB do original.
As confirmações das transações podem acontecer de maneira mais rápida e com taxas mais baixas que garantem uma escala ainda maior que a sua predecessora. Quem tinha Bitcoins recebeu em suas carteiras a mesma quantidade de Bitcoin Cash quando foi criada. Mas as regras de funcionamento, são semelhantes ao ativo original com o limite de 21 milhões de moedas.
Agradecimentos aos especialistas e seus comentários:
Mayra Siqueira, gerente geral da Binance no Brasil,
Fernando Antônio de Barros Júnior, economista, professor /doutor da USP,
Fernando Ulrich, autor do livro “Bitcoin: A moeda na era digital”
Rafael Nasser, doutor em Informática pela PUC-Rio
José Artur Ribeiro, CEO da corretora Coinext.
Ricardo Dantas, CO-CEO da corretora de criptomoedas Foxbit.
2 respostas
Já perdi muito dinheiro em cripto kkk, brincadeiras à parte, ótimo texto com uma boa visão do assunto.
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