Sabe quando você está em uma reunião de trabalho e alguém te faz uma pergunta, mas você não estava prestando muita atenção, então você só acena e concorda?
Isso aconteceu comigo no início do mês de setembro, quando me pediram para escrever um dos blogs do mês de outubro da agência. Fui lembrado na última quarta-feira que era o próximo a escrever, e o assunto, que pelo visto eu tinha escolhido, era pirataria virtual.
Então no sábado (que foi quando tive tempo de fazer) comecei a pesquisar com mais profundidade sobre o assunto, para poder ter mais propriedade quando fosse realmente escrever. No começo, fui atrás de notícias sobre pirataria, porque eu sabia que alguns sites e aplicativos, tinham sido desativados. Logo, descobri algo chamado Operação 404. Ela é uma colaboração feita pela polícia brasileira e a Nagra, uma empresa de antipirataria, que busca tornar indisponíveis todos os serviços criminosos que violam os direitos autorais de suas vítimas e que desde seu início, em 2019, já derrubaram mais de 2 mil sites e aplicativos piratas, tudo com foco na repressão de crimes contra a propriedade intelectual na internet.
E essas informações me fizeram pensar nas razões do porquê alguém baixaria um filme pela internet, de forma ilegal. Porque teoricamente, essa seria a forma mais democrática de acesso à cultura. De nenhuma maneira, os indivíduos que pirateiam filmes são isentos de culpa, eles estão violando a propriedade intelectual de alguém, não obstante, uma reflexão dos porquês me pareceu interessante, sendo que o Brasil é um dos países que mais consome de pirataria virtual.
Logo de cara, inteira de cinema tá cara. E tendo em vista o grande número de serviços de streaming, que são um pequeno reflexo dos infinitos canais de televisão paga, onde somando o valor dos principais serviços, você pode chegar em mais de R$300 mensais, não foi difícil de entender o porquê que alguém piratearia um filme ou uma série em pleno 2022. E com os serviços de streaming, a pirataria ficou ainda mais fácil, antes um filme era lançado e cópias de DVD pirata eram encontradas algum tempo depois, hoje, no mesmo dia em que algo “estreia” em algum serviço, esse conteúdo já se encontra disponível sem custo em algum outro lugar.
Mas pensando fora da questão de preço, entrei na questão da oferta e procura. Vamos dizer, em uma situação totalmente hipotética que, um indivíduo queira assistir ao filme Kagemusha, do lendário cineasta japonês Akira Kurosawa, e ele vai no Google e digita o nome do filme, normalmente quando se faz isso, o site indica onde tal filme está disponível, seja em algum serviço de streaming (até informando o preço da assinatura) ou por compra ou aluguel em algum aplicativo, como Play Store ou no próprio Youtube.
Mas e quando essa informação não existe?
O que o indivíduo faz? Porque se o Google não tem essa informação de cara, quem têm? Se o site referência de buscas, diz que o filme que ele quer não é encontrado em nenhum dos serviços de streaming mais conhecidos e as lindas Blockbusters não existem mais, será que o ato de pirataria não possa vir a ser justificado? Será que o acesso a arte e cultura não deveria ser absoluto? Descobri que uma das abordagens das operações antipirataria é exatamente isso, de cada vez mais facilitar o acesso a cultura, para que a pirataria não seja mais vista como uma opção.
Então comecei a pensar em um indivíduo de baixa renda, que consome cinema de uma maneira casual, e ele quer ver o mais recente filme da Marvel, porque tá “todo mundo” falando dele, mas os ingressos de cinema estão cada vez mais caros, e o serviço de streaming para onde o filme vai (Disney+), tem um custo maior por mês do que ele pode arcar, é muito provável que ele vá optar por baixar o filme ilegalmente, desse jeito ele tem esse acesso a cultura, e se mantém no seu círculo social.
Mas percebi que, na maioria das vezes, esse não é o caso. Será que o fato de que as pessoas estão valorizando cada vez menos “ir ao cinema”, não contribui nas estatísticas? Porque ir ao cinema e ver um filme em casa, são coisas totalmente diferentes. Para ir ao cinema, você tem que se arrumar, sair de casa, dirigir até o cinema, pagar o ingresso para ver só aquele filme, entrar em uma sala escura cheia de estranhos para finalmente, ver algo que você nem sabe se vai gostar, agora, para ver algo no conforto e segurança da própria casa, independente se você vai ver de maneira legalizada ou não, é só dar play e assistir, e se não gostar, é só tirar e procurar outra coisa pra ver. Será que o conforto não está ganhando da experiência?
Usando o filme citado anteriormente, Kagemusha, que é um filme japonês de 1980 que não é muito conhecido pela maioria, fiz um teste. Procurando Kagemusha no Google, você consegue encontrar o filme e o Google te dá uma sinopse, quem produziu, dirigiu, escreveu, a lista inteira de elenco, avaliações etc., mas não mostra onde ele está disponível, e no universo online, se a informação desejada não chega de imediato, a maioria já desiste e vai pelo caminho mais fácil.
Mas e se, a informação existe sim, mas para chegar nela você só precise procurar um pouco mais?
Então, a minha busca inicial por informações sobre pirataria, se tornou uma procura por lugares que
ofereçam filmes mais na pegada de Kagemusha e menos “mainstream”.
E joias do infinito foram encontradas!
A primeira foi o Oldflix. “A maior plataforma de conteúdo clássico do Brasil”, oferece o melhor do cinema antigo (incluindo algumas séries antigas), tudo por um preço inicial de R$14,90. Embora a interface não seja das melhores e o catálogo não seja muito vasto, dentro dele você com certeza vai achar filmes que não estão em quase nenhum outro lugar.
Logo em seguida achei a Darkflix, um serviço de streaming brasileiro pago, com foco em filmes, séries, animações e documentários de terror. Acesse se tiver coragem!!!! (*cochichando, é o slogan deles) Depois encontrei a Afroflix e a Libreflix, serviços de streaming gratuitos e nacionais, um com foco em conteúdos exclusivamente brasileiros e sempre com a presença de atuação e/ou equipe técnica negra, e o outro com uma pegada de conteúdo independente, que busca fomentar a colaboração do conhecimento online com longas, curtas-metragens e séries.
Mas a real joia do infinito encontrada em toda esta busca, a que me fez realmente querer começar a escrever este blog, foi a MUBI.
Ah, MUBI! Eu irei com absoluta certeza assinar você, no caso só no mês que vem, porque esse mês eu gastei muito dinheiro em São Paulo em um Magret de Pato, mas isso é história pra talvez outro blog.
Fundada por Efe Cakarel em 2007, MUBI é uma plataforma global de streaming de filmes, com curadoria, produtora e distribuidora. A MUBI produz e distribui em cinemas selecionados, clássicos cult a obras-primas modernas, diretores consagrados e novos em ascensão, filmes de todos os cantos do mundo, disponíveis EXCLUSIVAMENTE em sua plataforma.
Você pode ver online ou baixar todos os filmes disponíveis, quando e onde quiser! E não só uma plataforma, também serve como a maior comunidade de cinéfilos do mundo, onde seus mais de 12 milhões de membros exploram e conversam sobre cinema. Tudo isso por um mensal de R$27,90 ou anual de R$202,80, magnífico não?
Por fim, os porquês da pirataria, podem ser compreendidos, mas não justificados, porque independente do que você queira ver, em algum lugar na internet, você vai conseguir ter acesso de maneira legítima. Seja tendo todos os disponíveis, ou tendo que fazer escolhas difíceis e ver o que é
prioridade para o seu gosto e principalmente bolso.
E um adendo para os que ainda compram DVD’s ou até BluRay’s, The Criterion Collection, https://www.criterion.com/, tem a maior coleção do mundo de filmes, mas essa tem que pagar em dólar. (essa eu já conhecia antes de escrever o blog)